Soneto — “A Cegueira de Jorge Luis Borges”
Apr 23, 2020
Que vês, Borges, diante desse espelho ?
Vês rosto envelhecido ou de menino?
Vês parte da existência, enfrenta o limbo
ou tateias somente um entremeio ?
Acaso desnudara-se, vermelho,
o fogo etéreo; o fogo em labirinto
encarnado na face de um felino —
o tigre em quem a chama nasce pêlo?
Talvez não veja rostos, mas um lago
com imagem e símbolo e lamento
daquele velho verso posto ao lado…
E em riso, Borges rompe o seu silêncio:
“Vejo a neblina”, disse, erguendo um lenço
para enxugar o espelho empoeirado.
- Pedro de Almendra