“Meu nome é legião” – um ensaio sobre Coringa (2019)

Pedro de Almendra
2 min readDec 5, 2019

Texto publicado na Revista Amalgama em 20/11/2019

Várias vias podem ser adotadas para que se interprete o drama de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) em Coringa (2019): se, por um lado, pode-se focar nos problemas psicológicos do personagem e resolver o filme com um diagnóstico clínico e uma citação de Freud, por outro, igualmente válido, pode-se dar ênfase à sociedade à qual ele pertence e arriscar uma crítica à economia de mercado. Ambas as abordagens, a psicológica e a sociológica, apesar de justificáveis, atingem, quando muito, uma sugestão, algo convincente, mas insatisfatória. Nenhum desses problemas, acredito, ocupa um lugar realmente central no filme e aparecem, por vezes, de modo um tanto caricatural, beirando o substituível, o descartável: ratos gigantes, risos involuntários, elite cruel, etc. O lugar que ocupam aqui é, antes, o de moldura; servem de ocasião e não de motor ao drama.

Todas as tensões do universo de Coringa condensam-se no destino individual do protagonista e resolvem-se, juntas, em um só gesto.

Para que se compreenda esse processo de forma mais clara, é importante levar em conta que o filme obedece ao ritmo de uma tragédia grega. Segue, quase perfeitamente, o script clássico, com a agudeza de adaptar devidamente a mitologia grega à mitologia moderna — em vez de revelar a profecia de Tirésias, por exemplo, o roteiro faz sentir o peso do destino através de um antigo relatório médico. Por sua vez, o motor da tragédia permanece intacto: não a querela entre os deuses, mas a violência que progride à procura de um ponto final – um sacrifício.”


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Pedro de Almendra

“You shall know the truth and the truth shall make you odd.” ― Flannery O'Connor