“Deus fez o cheiro da carne” — poema

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Deus fez o cheiro da carne
antes de inventar os corpos.
Fez o semblante dos rostos em perfil
e só depois pôde talhar no barro frio
os poros rasos onde os olhos abrem.
Deus fez o nome, e só depois do nome,
fez a coisa nomeada.

(E é por isso que ainda hoje
se ensaio dizer o teu nome —
com a voz mansa de quem reza uma prece—,
posso sentir um sopro de perfume,
o cheiro de quando emprestei-te minha jaqueta
porque era noite, e quando era noite
sentias frio.)

Pedro de Almendra